LIÇÃO 01 - O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS
TEXTO ÁUREO
"Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado." (Lc 1.4)
VERDADE PRÁTICA
O cristão possui uma fé divinamente revelada e historicamente bem fundamentada.
INTRODUÇÃO
O Evangelho de Lucas é um dos livros mais belos e fascinantes do mundo. De fato, o terceiro Evangelho se distingue pelo seu estilo literário, pelo seu vocabulário e uso que faz do grego, considerado pelos eruditos como o mais refinado do Novo Testamento. Mas a sua maior beleza está em narrar a história da salvação (Lc 19.10). O autor procura mostrar, sempre de forma bem documentada, que o plano de Deus em salvar a humanidade, revelado através da história, cumpriu-se cabalmente em Cristo quando Ele se deu como sacrifício expiador pelos pecadores (Jo 10.11). Deus continua sendo Senhor da história e o advento do Messias para estabelecer o seu Reino é a prova disso. Lucas mostra que é através do Espírito Santo, primeiramente operando no ministério de Jesus e, posteriormente na Igreja, que esse propósito se efetiva.
I - O TERCEIRO EVANGELHO
1. Autoria e data. Lucas, "o médico amado" (Cl 4.14), a quem é atribuída a autoria do terceiro Evangelho, é citado no Novo Testamento três vezes. Todas as citações estão nas epístolas paulinas e são usadas no contexto do aprisionamento do apóstolo Paulo (Cl 4.14; Fm 24; 2 Tm 4.11). Embora o autor do terceiro Evangelho não se identifique pelo nome, isso não depõe contra a autoria lucana. Desde os seus primórdios, a Igreja Cristã atribui a Lucas a autoria do terceiro Evangelho. A crítica contra a autoria de Lucas não tem conseguido apresentar argumentos sólidos para demover a Igreja de sua posição. A erudição conservadora assegura que Lucas escreveu a sua obra (aproximadamente) no início dos anos sessenta do primeiro século da era cristã.
2. A obra. Lucas era historiador e médico. Ele escreveu sua obra em dois volumes (Lc 1.1-4; At 1.1,2). O terceiro Evangelho é a primeira parte desse trabalho e é uma narrativa da vida e obra de Jesus, enquanto os Atos dos Apóstolos compõem a segunda parte e narram o caminhar espiritual dos primeiros cristãos da Igreja Primitiva.
3. Os destinatários originais. O doutor Lucas endereçou seu Evangelho a Teófilo, certamente uma pessoa importante que devia ocupar uma alta posição social, sendo citado como "excelentíssimo". Pode se dizer que além deste ilustre destinatário, Lucas também escreveu aos gentios. O terceiro Evangelho pode ser classificado como sendo de natureza soteriológica e carismática. Soteriológica, porque narra o plano da salvação, e carismática porque dá amplo destaque ao papel do Espírito Santo como capacitador do ministério de Jesus Cristo.
II - OS FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE DA FÉ CRISTÃ
1. O cristianismo no seu contexto histórico. Lucas mostra com riqueza de detalhes sob que circunstâncias históricas se deram os fatos por ele narrados. Vejamos: "E, no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, e Herodes, tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias" (Lc 3.1,2). Esses dados têm um propósito claro: mostrar que o plano da salvação no cristianismo pode ser localizado com precisão dentro da história. A fé cristã, portanto, não se trata de uma lenda ou fábula engenhosamente inventada. São fatos históricos que poderiam ser testados e provados e, dessa forma, podem ser aceitos por todos aqueles que procuram a verdade.
2. Discipulado através dos fatos. A palavra grega katecheo, traduzida como "informado" ou "instruído" no versículo 4, deu origem à palavra portuguesa catequese. Esse vocábulo significa também: doutrinar, ensinar e convencer. Nesse contexto possui o sentido de "discipular". Lucas escreveu o seu Evangelho para formar discípulos. O discipulado, para ser autêntico, deve fundamentar-se na veracidade dos fatos da fé cristã. Nos primeiros versículos do seu Evangelho, Lucas revela, portanto, quais seriam as razões da sua obra (Lucas 1.1-4). O terceiro Evangelho foi escrito para mostrar os fundamentos das verdades nas quais os cristãos são instruídos.
III - A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO
1. A história da salvação. A teologia cristã destaca que Lucas divide a história da salvação em três estágios: o tempo do Antigo Testamento; o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. O terceiro Evangelho registra as duas primeiras etapas e o livro de Atos, a terceira (Lc 16.16). No contexto de Lucas a expressão a "Lei e os Profetas" é uma referência ao Antigo Testamento, onde é narrado o plano de Deus para o povo de Israel. A frase "anunciado o Reino de Deus" se refere ao tempo de Jesus que, através do Espírito Santo, realiza e manifesta o Reino de Deus. O tempo da Igreja ocorre quando o Espírito Santo, que estava sobre Jesus, é derramado sobre todos os crentes.
2. A salvação em seu aspecto universal. O aspecto universal da salvação, revelado no terceiro Evangelho pode ser facilmente observado pelo seu amplo destaque dado aos gentios. O próprio Lucas endereça a sua obra a um gentio, Teófilo (Lc 1.1,2). A descendência de Cristo, o Messias prometido, vai até Adão, o pai de todos, e não apenas até Abraão, o pai dos judeus (Lc 3.23-38). Fica, portanto, revelado que os gentios, e não somente os judeus, estão incluídos no plano salvífico de Deus (Lc 2.32; 24.47). Destaque especial é dado para os samaritanos (Lc 9.51-56; 10.25-37; 17.11-19). Há ainda outras particularidades do Evangelho de Lucas que mostram o interesse de Deus por toda a humanidade, especialmente os pobres e excluídos (Lc 19.1-10; 7.36-50; 23.39-43; 18.9-14).
IV - A IDENTIDADE DE JESUS, O MESSIAS ESPERADO
1. Jesus, o homem perfeito. No Evangelho de Lucas, Jesus aparece como o "Filho de Deus" (Lc 1.35) e Filho do Homem" (Lc 5.24). São expressões messiânicas que revelam a deidade de Jesus. A primeira expressão mostra Jesus como verdadeiro Deus enquanto a segunda, que ocorre 25 vezes no terceiro Evangelho, mostra-o como verdadeiro homem. Ele é o Filho do Homem, o Homem Perfeito. Ao usar o título "Filho do Homem" para si mesmo, Jesus evita ser confundido com o Messias político esperado pelos judeus. Como Homem Perfeito, Jesus era obediente a seus pais. Todavia, estava consciente de sua natureza divina (Lc 2.4-52). É como o Homem Perfeito que Jesus enfrenta, e derrota, Satanás na tentação do deserto (Lc 4.1-13).
2. O Messias e o Espírito Santo. Lucas revela que Jesus, o Messias, como Homem Perfeito, dependia do Espírito Santo no desempenho do seu ministério (Lc 4.18). Isaías, o profeta messiânico, mostra a estreita relação que o Messias manteria com o Espírito do Senhor (Is 11.1,2; 42.1). O Messias seria aquele sobre quem repousaria o Espírito do Senhor, tal como profetizara Isaías e Jesus aplicara a si, na sinagoga em Nazaré (Lc 4.16-19; Is 61.1).
CONCLUSÃO
O terceiro Evangelho é considerado a coroa dos Evangelhos sinóticos. Enquanto o Evangelho de Mateus enfoca a realeza do Messias e Marcos o poder, Lucas enfatiza o amor de Deus. Lucas é o Evangelho do Homem Perfeito; da alegria (Lc 1.28; 2.11; 19.37; 24.53); da misericórdia (Lc 1.78,79); do perdão (7.36-50; 19.1-10); da oração (Lc 6.12; 11.1; 22.39-45); dos pobres e necessitados (Lc 4.18) e do poder e da força do Espírito Santo (Lc 1.15,35; 3.22; 4.1; 4.14; 4.17-20; 10.21; 11.13; 24.49). Lucas é, portanto, o Evangelho do crente que quer conhecer melhor o seu Senhor e ser cheio do Espírito Santo.